Yvan Attal é um escritor, ator e diretor nascido em Tel Aviv (Israel), mas cresceu nos subúrbios de Paris. Ele já trabalhou em vários filmes, entre eles: A Interprete e Vanilla Sky.
Attal lançou, esse ano, o filme “They Are Everywhere”. Esta é uma produção francesa que explora de forma irreverente temas como: antissemitismo, assimilação, imigração, Israel e identidade judaica tendo como pano de fundo a França atual.
O personagem principal do filme é um alterego do próprio Attal que discute, de forma obsessiva, com o seu psicólogo sobre a sua identidade judaica e o crescente antissemitismo que ele vê em todos os lugares. Essa parte me lembrou muito os filmes do Woody Allen. O personagem do Attal é um judeu sefardita, francês, completamente secular, casado com um mulher não judia e que se vê completamente obcecado por ser judeu e pelo antissemitismo.
As conversas que ele tem com o psicólogo são cortadas por sketches que abordam, cada uma com um grupo de atores e personagens, vários estereótipos judaicos e ideias antissemitas. Temos o político de um partido de extrema-direita que se descobre judeu, um homem judeu que é atormentado por ser pobre enquanto todos ao seu redor acham que todos os judeus são ricos, dois judeus ultraortodoxos discutindo sobre um Midrash e outros, cada um mais politicamente incorreto que o outro.
Existem críticas implícitas em cada uma das sketches, mas é necessário atenção para perceber: logo no início do filme, quando Attal esta conversando com um francês e o último o pergunta “então, você é israelense?” e Attal responde “não, eu sou judeu” e, em outra cena, temos o sobrevivente do Holocausto que fala sobre sua experiência para um grupo de pessoas com Alzheimer.
O filme aborda, com muito senso de humor e inteligência, várias das dúvidas que fazem parte do universo judaico. Em uma das entrevistas com o psicólogo, Attal é questionado se a sua mulher é judia e ele responde que ela é e não é. Sua mulher tem um pai judeu e uma mãe não judia, portanto, de acordo com a Halacha (Lei Judaica), ela não seria judia, contudo, em decorrência de ter o sobrenome do pai, todos os antissemitas acham que ela é judia.
Em outra conversa que ele tem com o psicólogo, Attal se pergunta como um judeu pode dizer para outro judeu que o primeiro é obcecado por judeus? Afinal, todos os judeus são obcecados pelos judeus. É um pensamento simples, mas é extremamente verdadeiro e contribui para tornar o roteiro autêntico. No filme se discute de forma neurotica, obsessiva, dramática e emocionante sobre o que é ser judeu – algo que, em geral, escritores seculares judeus conseguem fazer com maestria.
O que é ser judeu? Um convertido de acordo com a Halacha é judeu tanto quanto alguém que nasce Judeu? Qual é a minha cultura, ou seja, a minha herança enquanto alguém que se converteu ao judaísmo? Essas são perguntas que eu me faço constantemente, tanto quanto Yvan Attal, mas, infelizmente, não com tanta qualidade literária.
[Spoiler] No final do filme, o personagem de Attal se pergunta se ele deseja deixar a França. Ele responde para si mesmo com a frase de Billy Wilder, “os pessimistas estão em Hollywood e os otimistas em Auschwitz” e que ele se definia como um otimista porque ele ainda ama a França, ele acredita na França. O monólogo final não é marcado por uma resposta – para as dúvidas do personagens – que se volta para particularismo típico do sionismo ou de um retorno às raízes religiosas da ortodoxia judaica, mas sim, por uma crença em valores universais.